Ele mora em mim. E dorme. De vez em quando desperta, com um pedaço de memória caído no chão, mas logo volta a dormir. Ele mora em mim e às vezes se mexe, procurando uma posição mais confortável. Eu tento não fazer muito barulho. Confesso que, por alguns instantes, quase sem querer, vejo um pedaço do seu rosto ou do seu corpo. E me lembro do quanto é bonito. Ele mora em mim e às vezes fala com a minha voz, sonha com meus sonhos, ri com o meu riso, se move com minhas pernas, abraça com meus braços. Ele mora em mim e ama com o meu coração. Ele e o amor que sinto por ele se misturam na cama macia que existe dentro de mim. São um só, pernas entrelaçadas, num sono de colherzinha. Ele morando em mim, me faz melhor. Olho para mim, vejo o meu amor e vejo a mim mesma. Eu me lembro de mim. Lembro da felicidade a dois, da nobreza do amor que construímos. Altruísta, leve, generoso, amor que se faz feliz ao ver o outro feliz. Ele mora em mim e me faz mais forte. Nunca, em toda a minha vida, tive tanta coragem. Nunca fiz tanto ao mesmo tempo.
(Cristiana Guerra)
Você mora em mim. Não sei mudar isso. Você tem seu lugar aqui.